Muito se fala das inovações tecnológicas no campo e como elas podem otimizar o agronegócio brasileiro. Tecnologias como blockchain, inteligência artificial e agricultura de precisão, estarão cada vez mais presentes no contexto rural nas próximas décadas o que resultará na consolidação de uma agricultura inteligente (smart farming).
A agricultura inteligente utiliza tecnologias digitais e de comunicação para assegurar a eficiência, melhorar a qualidade de produtos, reduzir custos, trazer maior segurança e sustentabilidade ambiental e do negócio, além de executar atividades de forma automatizada e que possa se adaptar às mais diversas situações.
Dentre os mais diversos setores tecnológicos envolvidos na agricultura, a robótica vem desenvolvendo tecnologias autônomas que contribuem para essa nova agricultura, das quais destacam-se os Veículos Autônomos Agrícolas (VAA). Os VAA podem ser aéreos, terrestres ou aquáticos, sendo alguns deles híbridos, avaliados pelo seu potencial e capacidade de fornecer: velocidade, produtividade, precisão e segurança na atividade agrícola. Dentre os VAA mais conhecidos estão os drones, os utilitários, os tratores e as colheitadeiras.
Com o suporte de outras tecnologias existentes, interfaces interligadas, internet de alta performance e máquinas que entregam relatórios capazes de fornecer informações precisas para a otimização da produção, podemos afirmar que a agricultura do futuro chegou para o Brasil, certo? Porém, antes que possamos responder a esta pergunta, é preciso analisar alguns dados acerca do acesso às ferramentas, da capacitação dos trabalhadores e da conectividade do campo.
Primeiramente, sobre essas diversas ferramentas, maquinários e softwares disponíveis ao campo, podemos dizer que elas não são acessíveis à maior parte dos produtores. Duas das quatro maiores dificuldades para adoção e implementação de novas tecnologias apontadas pela Embrapa no final de 2020 foram: O valor do investimento, tanto para aplicativos e maquinários, quanto para contratação de mão de obra qualificada, o que nos leva para o segundo pilar dessa agricultura inteligente.
A falta de mão-de-obra qualificada no campo vem se mostrando como um grande gargalo, afinal, como que se poderia gastar um valor elevado com equipamentos de altíssima eficiência tecnológica sem pessoas que possam ler os dados ou operar esses equipamentos? O custo de oportunidade da implementação acaba sendo bastante elevado. Parte dessa escassez de conhecimento pode ser atribuída, entre outras coisas, pela infraestrutura das propriedades rurais, motivo pelo qual as pessoas, principalmente as mais jovens, acabam por optar por viver nas cidades ou em grandes centros urbanos, o que aponta para o terceiro ponto, a conectividade.
Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a maior parte do campo encontra-se offline, sem nenhum tipo de conexão com a internet. Como aplicar tecnologias de alta performance, que necessitam de acesso em tempo real sem o acesso ao mínimo necessário para seu funcionamento? Ainda, como realizar grandes investimentos em maquinários se estes operarão muito abaixo de sua performance? A falta de estrutura acaba gerando um efeito em cadeia negativo para a implementação dessas tecnologias, bem como afastando a mão-de-obra qualificada.
Tendo isso em vista, podemos dizer que a agricultura do futuro chegou ao Brasil? Ainda estamos longe dessa realidade, é preciso, antes de se falar em tecnologia de ponta, melhorar as condições de trabalho e de vida na zona rural. Também é necessário zelo para com o produtor e somente assim, podemos abrir caminho para que a agricultura inteligente seja realidade no nosso país.
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