O valor da origem: como as certificações transformam produtos em símbolos locais
- Andressa Paviani
- há 5 horas
- 3 min de leitura

Você já viu um selo com as letras IG, IP ou DO em um rótulo de vinho, pacote de café especial, um queijo ou em outro produto? Essas siglas fazem parte do sistema de Indicações Geográficas, uma forma de reconhecer produtos que carregam a identidade de um território. Mais do que uma marca, esses selos protegem a história, os saberes e a reputação de uma região produtora.
☂️ IG – Indicação Geográfica: o guarda-chuva que protege a origem
A Indicação Geográfica (IG) funciona como um guarda-chuva jurídico e simbólico, que abriga duas certificações específicas: a Indicação de Procedência (IP) e a Denominação de Origem (DO). Ela serve para identificar produtos cuja qualidade ou reputação estão relacionadas a uma região geográfica delimitada, que pode ser um município, um conjunto de cidades, uma microrregião ou até um bioma.
No setor cafeeiro, o Brasil tem se destacado com diversas IGs. O Cerrado Mineiro foi pioneiro, seguido por regiões como a Mantiqueira de Minas, o Norte Pioneiro do Paraná e a Chapada Diamantina (BA), todas reconhecidas pela produção de cafés especiais com atributos sensoriais ligados à altitude, clima e técnicas de cultivo locais.
🌱 IP – Indicação de Procedência: reconhecimento da tradição regional
A Indicação de Procedência (IP) é a porta de entrada para a valorização de um território. Ela é concedida a regiões que se tornaram tradicionalmente conhecidas por produzir um determinado bem. Isso não exige que as condições naturais sejam únicas, mas sim que exista uma reputação construída ao longo do tempo.
Um exemplo recente é a IP Vinhos de Inverno do Sul de Minas, concedida em 2025 a um grupo de municípios produtores que utilizam a técnica da dupla poda, permitindo colher uvas no período seco e elaborar vinhos mais equilibrados. A certificação reconhece a identidade construída na região por meio da organização dos produtores, investimentos em qualidade e valorização do terroir.
Além dos vinhos, outros produtos mineiros já conquistaram a IP, como:
Queijo da Canastra
Queijo do Serro
Carne de Zebu do Triângulo Mineiro
Cachaça de Salinas
🍇 DO – Denominação de Origem: quando o território faz o produto
A Denominação de Origem (DO) é uma certificação mais exigente. Ela reconhece que as características do produto dependem diretamente das condições naturais e saberes locais, como o tipo de solo, clima, altitude, técnicas de produção e até modos de vida.
A DO só é concedida quando:
A matéria-prima é originária da região
Todas as etapas produtivas ocorrem no território
As qualidades do produto são inseparáveis do lugar
No vinho, o Vale dos Vinhedos e Altos de Pinto Bandeira, ambos no Rio Grande do Sul, são as duas regiões brasileiras com DO. No café, Cerrado Mineiro também conquistou esse status ao comprovar que suas condições geográficas e o manejo local resultam em cafés com perfil sensorial único.
🏛️ Quem concede essas certificações?
No Brasil, as IGs (incluindo IP e DO) são concedidas pelo Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI). Para obter uma IG, os produtores da região precisam:
Formar uma associação ou entidade representativa da cadeia produtiva.
Delimitar a área geográfica com base em critérios técnicos (clima, solo, tradição, etc.).
Elaborar um regulamento de uso, com regras para produção e controle de qualidade.
Comprovar a reputação ou especificidade do produto por meio de estudos técnicos, científicos ou históricos.
Entrar com o pedido junto ao INPI, que avaliará a documentação e poderá solicitar ajustes.
Esse processo envolve organização coletiva, articulação institucional e registros formais, mas os benefícios são significativos: mais valor agregado, proteção contra uso indevido do nome da região, e acesso a novos mercados.
🌿 Por que isso importa?
Certificações como IG, IP e DO preservam a identidade dos territórios, estimulam a valorização da agricultura de qualidade e permitem que os consumidores façam escolhas mais conscientes. Quando você compra um café da Mantiqueira ou um vinho do Sul de Minas, não está apenas adquirindo um produto: está levando a história, o sabor e o saber de um lugar.
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