Plantar Café em terraços: uma boa escolha?
- Lady Rodriguez
- 1 de set.
- 3 min de leitura
A cafeicultura é uma das atividades agrícolas mais relevantes do agronegócio mundial, sendo o café uma das principais commodities exportadas por países como Brasil, Vietnã, Colômbia, Costa Rica e incluso Arábia Saudita (Khemira et al., 2023; Souza et al., 2024). Em regiões montanhosas, a produção de café enfrenta desafios específicos relacionados à topografia e ao manejo do solo, o que torna os terraços agrícolas uma estratégia eficaz e frequentemente adotada.
No contexto agrícola, os terraços são estruturas construídas em encostas acentuadas com o objetivo de criar superfícies mais estáveis e manejáveis para o cultivo. Essas estruturas niveladas são formadas por muros ou patamares que auxiliam na conservação do solo, no manejo da água, na preservação da fertilidade e na facilitação da mecanização em áreas montanhosas (Do et al., 2023; Tavares et al., 2019).
A construção de terraços exige estudos prévios detalhados, incluindo análise de declividade, orientação e níveis do terreno, frequentemente utilizando instrumentos como níveis ópticos ou a laser. A execução envolve o uso de máquinas leves ou pesadas, segundo a declividade do terreno, como motocultivadores, retroescavadeiras e
bulldozers, tanto para o nivelamento do solo quanto para a construção de canais de drenagem.
Considerando esses aspectos, a escolha por esse sistema deve ponderar os ganhos produtivos e ambientais frente às limitações técnicas e econômicas. Diversos estudos recentes, como os de Tavares et al. (2019), Do et al. (2023) e Souza et al. (2024), apresentam um panorama sobre as principais vantagens e desvantagens dessa prática, entre as quais se destacam a redução da erosão do solo, a melhoria na infiltração da água e o favorecimento ao crescimento das raízes. Essa prática também contribui para a sustentabilidade e produtividade das lavouras, facilita o uso de determinadas máquinas
agrícolas e permite integrar o cultivo do café a práticas sustentáveis, como sistemas agroflorestais. Por outro lado, os custos de construção podem ser elevados, exigindo manutenção frequente, além de possíveis limitações na mecanização, redução da área plantável e necessidade de conhecimento técnico especializado.
Para que a implantação de sistemas em terraços seja eficaz e viável, alguns pesquisadores, como Villatoro-Sánchez et al. (2015), Tavares et al. (2019) e Souza et al. (2024), recomendam alguns aspectos técnicos essenciais, como: assessoria técnica especializada para o planejamento, construção e manutenção dos terraços; manutenção preventiva constante para evitar o desgaste das estruturas e colapsos que comprometam a produtividade; dimensionamento adequado da maquinaria agrícola, respeitando as dimensões dos terraços para garantir a eficiência operacional; controle da água da chuva e do escoamento superficial, com instalação de canais e sistemas de drenagem para evitar erosão e saturação do solo; e cobertura vegetal permanente, utilizando plantas de sombreamento e resíduos orgânicos (folhas, galhos), contribuindo para o equilíbrio ecológico e a proteção do solo. Além disso, é essencial lembrar que, em regiões com encostas acentuados e alta incidência de chuvas, a estabilização das estruturas pode ser desafiadora, exigindo soluções de engenharia agrícola e conservação do solo bem definidas.
Segundo Khemira et al. (2023), a produção de café em terraços pode ser economicamente viável, especialmente quando os benefícios da mecanização, conservação do solo e aumento de produtividade superam os custos iniciais e de manutenção. Essa viabilidade aumenta quando se aplica um pacote tecnológico completo, incluindo fertilização racional, irrigação complementar, poda adequada e manejo integrado de pragas. Com bom planejamento, assistência técnica e, se possível, apoio institucional ou incentivos financeiros, o sistema pode trazer ótimos resultados. No fim das contas, o sucesso depende do equilíbrio entre investimento, manejo adequado e respeito às condições locais das montanhas.
Referências Bibliográficas
Do, V.H., La, N., Bergkvist, G., Dahlin, A.S., Mulia, R., Nguyen, V.T., Öborn, I., 2023. Agroforestry with contour planting of grass contributes to terrace formation and conservation of soil and nutrients on sloping land. Agric. Ecosyst. Environ. 345. https://doi.org/10.1016/j.agee.2022.108323
Khemira, H., Medebesh, K., Mehrez, H., Hamadi, N., 2023. Effect of fertilization on yield and quality of Arabica coffee grown on mountain terraces in southwestern Saudi Arabia. Sci. Hortic. (Amsterdam). 321, 395–410. https://doi.org/10.1016/j.cienta.2023.112370
Souza, F.G., Teixeira, M.M., Villibor, G.P., Júnior, M.R.F., Cecon, P.R., 2024. Experimental model for optimizing mechanized mountain coffee harvesting. Rev. Bras. Eng. Agrícola e Ambient. 28, 10–14. https://doi.org/10.1590/1807- 1929/agriambi.v28n12e279179
Tavares, T. de O., de Oliveira, B.R., Silva, V., Pereira, da S.R., dos Santos, A.F., Okida, E. silva, 2019. The times, movements and operational efficiency of mechanized coffee harvesting in sloped areas. PLoS One 14, 1–10. https://doi.org/10.1371/journal.pone.0217286
Villatoro-Sánchez, M., Le Bissonnais, Y., Moussa, R., Rapidel, B., 2015. Temporal dynamics of runoff and soil loss on a plot scale under a coffee plantation on steep soil (Ultisol), Costa Rica. J. Hydrol. 523, 409–426. https://doi.org/10.1016/j.jhydrol.2015.01.058
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