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Protagonismo feminino na cafeicultura mineira

  • Foto do escritor: Jessica Ferreira Helvécio
    Jessica Ferreira Helvécio
  • há 3 dias
  • 3 min de leitura

Cada vez mais mulheres estão assumindo a gestão de lavouras, tomando decisões estratégicas, inovando na produção e agregando valor aos grãos cultivados com história, afeto e propósito. Essa presença crescente na cafeicultura reflete transformações importantes no campo, alinhadas às chamadas “novas ruralidades”, que

reconhecem o espaço feminino como central na agricultura contemporânea (Karam, 2004).


As trajetórias dessas mulheres, em muitos casos, têm raízes profundas. Começam ainda na infância, ao lado de pais e avós, no cotidiano da lavoura. O que antes era visto como “ajuda” espontânea hoje se revela como aprendizado essencial, transmitido oralmente e pela prática, que floresce em iniciativas empreendedoras robustas. Outras histórias surgem da ruptura: mulheres que, diante de separações, luto ou crises familiares, encontram na terra uma forma de recomeçar e se reconectar com sua identidade (Dornelas, 2008).


Apesar dos avanços, os desafios permanecem. A cafeicultura, como tantas outras atividades no meio rural, ainda carrega marcas de uma cultura patriarcal. Em muitos espaços, a presença feminina é desconsiderada ou invisibilizada. As mulheres enfrentam preconceito em feiras e eventos técnicos, recebem menos atenção em negociações e, muitas vezes, precisam reafirmar constantemente sua legitimidade enquanto gestoras e produtoras. Segundo Silva (2019), o “não lugar” da mulher na agricultura persiste como uma das formas mais silenciosas de exclusão de gênero.


Além das barreiras simbólicas, há entraves estruturais: o acesso desigual a crédito, assistência técnica e recursos produtivos impacta diretamente a autonomia dessas produtoras (Santos; Bohn; Almeida, 2020). Mesmo quando responsáveis pela gestão da propriedade, muitas ainda dependem da assinatura de maridos ou parentes homens para acessar políticas públicas ou financiamentos.


Entretanto, é justamente diante dessas adversidades que muitas mulheres têm transformado vulnerabilidade em força. Elas se organizam em redes, participam de associações e cooperativas, trocam experiências e conhecimento. Projetos como o IWCA Brasil (International Women’s Coffee Alliance) e programas de certificação específicos para cafés produzidos por mulheres têm criado ambientes mais justos e visíveis para esse público, abrindo caminhos para novos mercados e reconhecimento (Franceschini, 2019).


Essa experiência feminina na cafeicultura mineira é marcada por uma combinação única de tradição e inovação. As mulheres do campo não apenas cuidam da terra, mas também da identidade de um território que pulsa história e sabor. Elas cultivam mais do que grãos: cultivam pertencimento, visibilidade e transformação.


Ao unir técnica, sensibilidade e visão de futuro, essas cafeicultoras demonstram que o empreendedorismo rural também é uma ferramenta de empoderamento. Elas inovam sem abandonar suas raízes, equilibrando saberes tradicionais com práticas de gestão moderna. E mostram, com seus próprios passos, que os caminhos da sustentabilidade, da inclusão e da justiça no campo passam, e precisam continuar passando por mãos femininas.


REFERÊNCIAS:


DORNELAS, J. C. A. Empreendedorismo. Elsevier Brasil, 2008.

FRANCESCHINI, A. A integração das mulheres no agronegócio [entrevistada pela

Equipe da redação-Agroanalysis]. AgroANALYSIS, v.37, n.4, p.7-10, 2017.

IWCA Brasil. “Trilha de aprendizagem: Sucesso na comercialização de café”. 2022.

Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=zs7c3BF9lUY.

KARAM, K. F. A mulher na agricultura orgânica e em novas ruralidades. Estudos

Feministas, Florianópolis, v. 12, n. 1, p. 303-320, jan./abr. 2004.

SANTOS, J. B; BOHN, L.; ALMEIDA, H. J. F. O papel da mulher na agricultura

familiar de Concórdia (SC): o tempo de trabalho entre atividades produtivas e

reprodutivas. Textos de Economia, Florianópolis, v. 23, n. 1, p. 1-27, jan./jul. 2020.

SILVA, M. R. Gênero, desigualdades e agricultura: a mulher na atividade agrícola

familiar. Brazilian Journal of Development, Curitiba, v. 5, n. 3, p. 2095-2105, mar.

2019.

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Os conteúdos dos textos publicados neste blog refletem exclusivamente a opinião dos autores e não representam, necessariamente, as opiniões do Centro de Estudos em Mercado e Tecnologias no Agronegócio da Universidade Federal de Lavras (AGRITECH UFLA), da Universidade Federal de Lavras (UFLA) ou das agências de fomento que financiam as pesquisas do AGRITECH UFLA.

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