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Smart Farming, Smart Milk: o leite na era da rastreabilidade digital

  • Foto do escritor: Fernanda Nunes Maciel
    Fernanda Nunes Maciel
  • 25 de set.
  • 4 min de leitura

A cadeia produtiva do leite tem destaque no agronegócio, tanto pela sua importância econômica quanto pela complexidade das etapas que a compõem. Trata-se de um setor que abrange desde a produção primária, realizada em propriedades rurais de diferentes portes, até o processamento industrial, a logística de transporte e a chegada dos produtos aos consumidores finais. Em cada elo dessa cadeia, há um desafio: como assegurar que o leite e seus derivados cheguem ao mercado com qualidade, segurança alimentar e transparência?


Nos últimos anos, a resposta a essa pergunta tem sido cada vez mais associada à rastreabilidade digital, um conjunto de soluções que utiliza tecnologias emergentes para registrar e acompanhar cada fase do percurso do alimento (Casino et al., 2021). Enquanto os modelos tradicionais de rastreabilidade dependiam de registros manuais e

documentos impressos, que dificultavam o compartilhamento de informações e abriam

margem para erros, a digitalização trouxe uma nova lógica. Tecnologias como Blockchain, Internet das Coisas (IoT) e Inteligência Artificial (IA) permitem criar registros automatizados, confiáveis e imutáveis, capazes de acompanhar a trajetória do leite desde a ordenha até a gôndola do supermercado.


Com sensores inteligentes espalhados nas fazendas, é possível monitorar variáveis como temperatura, umidade e condições de transporte em tempo real (Alonso et al., 2020). Já os sistemas baseados em Blockchain oferecem transparência,tornando as informações acessíveis a todos os agentes da cadeia e reduzindo assimetrias quedificultaram a confiança entre produtores, indústrias, distribuidores e consumidores (Khanna et al., 2022).


Os efeitos dessa transformação digital já são visíveis em várias frentes. Do ponto de vista produtivo, a rastreabilidade vem contribuindo para a automação de processos, reduzindo erros humanos e padronizando procedimentos entre os diferentes elos da cadeia (Tran et al., 2024). Isso significa menos perdas logísticas, maior precisão nos controles sanitários e detecção precoce de doenças ou situações de estresse animal, algo valorizado em mercados cada vez mais atentos ao bem-estar dos animais (Biradar et al., 2025). Para as empresas, a digitalização também facilita auditorias, certificações e o atendimento a exigências regulatórias, ampliando o acesso a mercados externos e fortalecendo a reputação organizacional (Wu et al., 2021).


Contudo, a implementação dessas novas ideias não é isenta de desafios. Do ponto de vista técnico, ainda persistem problemas como a falta de interoperabilidade entre plataformas, a necessidade de padronização de dados e os altos custos de implantação das soluções digitais (Khanna et al., 2022). Em áreas rurais, a limitação da infraestrutura de conectividade e a escassez de mão de obra qualificada também dificultam a disseminação das inovações (Alonso et al., 2020). Soma-se a isso a resistência cultural de parte dos pequenos produtores, que enxergam essas ferramentas como complexas, caras ou até ameaçadoras para sua autonomia (Mangla et al., 2021). Nesse cenário, o risco de exclusão digital e de aumento das desigualdades no campo é uma preocupação real (Mehannaoui et al., 2025).


A superação desses obstáculos depende de uma ampla articulação. Instituições públicas e privadas precisam atuar de forma coordenada para oferecer incentivos, capacitação e suporte técnico que garantam a inclusão de pequenos e médios produtores no processo de digitalização. Além disso, é necessário que as soluções sejam desenhadas de forma acessível e adaptada às diferentes realidades produtivas (Lin & Wu, 2021). O que se observa é que a rastreabilidade digital tem potencial para redefinir a lógica da cadeia do leite. Mais do que uma ferramenta para atender normas e regulamentos, esta se apresenta como um mecanismo de inovação capaz de aproximar produtores, indústrias e consumidores em torno de práticas mais transparentes, sustentáveis e competitivas, A rastreabilidade digital na cadeia do leite não deve ser vista apenas como uma tendência passageira, mas como parte de um movimento de transformação do agronegócio. Se bem planejada e implementada, ela pode transformar desafios históricos em oportunidades, conectando inovação tecnológica, governança compartilhada e confiança do consumidor, abrindo caminho para um setor mais moderno, sustentável e competitivo.


Referências

ALONSO, R. S.; SITTÓN-CANDANEDO, I.; GARCÍA, O.; PRIETO, J.; RODRÍGUEZ-


GONZÁLEZ, S. An intelligent Edge-IoT platform for monitoring livestock and crops in a

dairy farming scenario. Ad Hoc Networks, v. 98, 102047, Mar. 2020.


BIRADAR, M.; SIDNAL, N.; ROKADE, R.; SHIRAGAPUR, B. Dairy product quality

evaluation using optimization-based deep maxout network with blockchain-driven internet of things. Peer-to-Peer Networking and Applications, v. 18, n. 3, 124, Mar. 2025


CASINO, F. et al. Blockchain-based food supply chain traceability: a case study in the dairy sector. International journal of production research, v. 59, n. 19, p. 5758-5770, 2021.


KHANNA, A.; JAIN, S.; BURGIO, A.; BOLSHEV, V.; PANCHENKO, V. Blockchain- enabled supply chain platform for Indian dairy industry: safety and traceability. Foods, v. 11, n. 17, 2716, Sept. 2022.


LIN, X.; WU, R. Z. An empirical study on the dairy product consumers’ intention to adopt


the food traceability’s technology. Frontiers in Psychology, v. 11, 612889, Jan. 2021.


MANGLA, S. K. et al. Using system dynamics to analyze the societal impacts of blockchain technology in milk supply chainsrefer. Transportation Research Part E: Logistics and Transportation Review, v. 149, p. 102289, 2021.


MEHANNAOUI, R.; MOUSS, K. N.; AKSA, K.; BENCHINE, H.; ISMAIL, S. A holochain- based IoT-enabled agri-food traceability system. International Journal of InformationTechnology, 2025.

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