top of page
  • Foto do escritorPaulo Henrique Leme

Novos mercados tecnológicos no agro brasileiro: o papel do AGRITECH UFLA

O agronegócio brasileiro vive a revolução da agricultura digital, também conhecida como agricultura 4.0. O impacto na produtividade, qualidade, redução de perdas e sustentabilidade levam o agro brasileiro para uma fase de prosperidade e compromisso com o futuro. E claro, também traz consigo novos desafios.


Os diversos tipos de tecnologias adotadas no campo têm transformado a forma como os mercados do agronegócio se desenvolvem. Compreender como novas dinâmicas de mercado se formam e como a prática dos diversos atores envolvidos com o agronegócio, da semente ao prato, influenciam as transações econômicas passa a ser um importante tema de estudo para a academia.


No centro destas mudanças está a inovação. De acordo com Schumpeter (1988)[1], a inovação cria uma ruptura no sistema econômico, tirando-a do estado de equilíbrio, alterando padrões de produção e permitindo a diferenciação para as empresas. É a destruição criativa. Ou, na perspectiva de Bruno Latour[2] e Michel Callon[3], a partir da Teoria Ator-Rede, a inovação é um processo complexo, socialmente construído, que envolve múltipla interações entre atores humanos e não-humanos.


A agricultura e a pecuária são processos mercadológicos imbricados de inovação, desde a domesticação de plantas e animais até o sequenciamento genético e aplicação de inteligência artificial na tomada de decisões no campo. São a ciência e a inovação, aliadas ao pioneirismo e espírito empreendedor do homem do campo, que alimentam o mundo.


O Centro de Estudos de Mercado e Tecnologias no Agronegócio (AGRITECH UFLA) foi desenvolvido para ajudar na compreensão dessas dinâmicas de mercado propostas por essas novas tecnologias e seus usuários. Falamos de tecnologias relacionadas à agricultura, pecuária, silvicultura, tecnologias sociais e digitais.


O agronegócio brasileiro foi palco de grandes revoluções que mudaram a produção de alimentos globalmente por meio do desenvolvimento de tecnologias agrícolas. Entre elas, está a correção da acidez do solo, que permitiu a expansão da cultura de grãos no cerrado brasileiro, em terras anteriormente impróprias para o plantio de alimentos. Essa foi uma contribuição tecnológica com participação direta da Universidade Federal de Lavras, com os expoentes professores Alysson Paolinelli e Alfredo Scheid Lopes. Também houve avanços tecnológicos na genética, com a adaptação de culturas temperadas aos trópicos brasileiros.


Outras revoluções foram impulsionadas por tecnologias sociais. Um exemplo importante é a expansão e consolidação do modelo cooperativista no Brasil, que permitiu a distribuição de insumos, tecnologias e assistência técnica para produtores em locais distantes. Outro ponto relevante foi o papel da EMATER e outras empresas de assistência agropecuária, que difundiram melhores práticas para produtores em todo o país. Essas tecnologias sociais, muitas vezes negligenciadas, foram essenciais para a adaptação e implantação de outras tecnologias nas diversas realidades do campo. O associativismo também foi importante, pois permitiu que os produtores lutassem por objetivos comuns, como agregação de valor, participação política e busca de informações sobre novos mercados.


Agora vivemos um novo momento, a revolução da agricultura digital, a Agricultura 4.0, que já estava ocorrendo nos Estados Unidos, Europa e Ásia e agora chega ao Brasil com força. Tecnologias como drones, biotecnologia e softwares de agricultura de precisão estão transformando a forma como os produtores brasileiros de todas as categorias estão produzindo alimentos.


O AGRITECH UFLA foi criado para estudar essas tecnologias e estes novos mercados. É inegável que tecnologias como drones são utilizadas para melhorar tanto a produção quanto a comercialização. Não faz sentido insistir na aplicação de defensivos agrícolas ou outros insumos utilizando mão de obra humana quando há drones mais eficientes, rápidos e seguros para a saúde. Além disso, essas tecnologias se tornam cada vez mais economicamente viáveis e são adotadas por produtores de todos os portes. Hoje em dia, pequenos agricultores também podem utilizar drones para monitoramento e aplicação de defensivos. Além disso, há softwares digitais disponíveis para gestão, previsão climática e plataformas de comercialização.


No entanto, a conectividade ainda é um desafio para a agricultura brasileira. Por esse motivo, o AGRITECH UFLA faz parte do Projeto Semear Digital, capitaneado pela Embrapa Agricultura Digital. O projeto é financiado pela FAPESP.


Outro importante projeto é financiado pela FAPEMIG. Ele envolve estudar a adoção de tecnologias digitais por pequenos e médios cafeicultores ligados ao sistema de Comércio Justo (FAIRTRADE). Em outra linha, o AGRITECH UFLA desenvolve análises de tendências tecnológicas e o perfil do produtor de alimentos do futuro, em parceria com a Confederação Nacional da Agropecuária (CNA).


Estes estudos ainda contam com o apoio da Agência Zetta de Inovação, Geotecnologia e Sistemas Inteligentes da UFLA, que apoia na execução das pesquisas e com seu conhecimento em gestão territorial.


No AGRITECH UFLA temos alunos de doutorado, mestrado, graduação e pós-doutorado, professores da Universidade Federal de Lavras e pesquisadores convidados engajados em entender as dinâmicas de mercado e as novas práticas mercadológicas que são utilizadas para difundir e tirar o máximo proveito dessas novas tecnologias.


Em nossos estudos, utilizamos teorias como os Estudos de Mercado Construtivistas (EMC) para entender a dinâmica das práticas e dos arranjos de mercado na construção de novas possibilidades mercadológicas que modificam o papel dos atores humanos e não humanos em sistemas agroindustriais[4]. Também utilizamos a Teoria Institucional para compreender como as instituições difundem e modificam a economia e os mercados.


O AGRITECH UFLA utiliza estas abordagens para desenvolver estudos de inteligência competitiva, artigos científicos, estudos de caso e ações de ensino e extensão que possam ajudar o agronegócio brasileiro a traçar o caminho na Agricultura 4.0 e na agricultura digital. Estamos transformando e digitalizando o agronegócio brasileiro, de forma sustentável e inclusiva, sem deixar nenhum produtor para trás.


Sejam todos bem-vindos.



[1] Schumpeter, J. A. (1988). A teoria do desenvolvimento econômico. São Paulo: Nova Cultural.

[2] Latour, B. (2005). Reassembling the social: An introduction to Actor-Network-Theory. Oxford University Press.

[3] Callon, M. (1998). The laws of the markets. Blackwell.

[4] MACIEL, G. N.; LEME, P. H. M. V. . CONSTRUÇÃO DE MERCADOS AGROALIMENTARES: UMA ABORDAGEM SOB A LENTE TEÓRICA DOS ESTUDOS DE MERCADO CONSTRUTIVISTAS (EMC). Organizações Rurais & Agroindustriais, [S. l.], v. 25, p. e1997, 2023. Disponível em: https://www.revista.dae.ufla.br/index.php/ora/article/view/1997. Acesso em: 19 fev. 2024.

38 visualizações0 comentário
bottom of page