“Quando falamos da História do povo negro, sempre nos lembramos da violência inenarrável da escravidão, mas não devemos nos esquecer de que nas lutas pela sobrevivência e pela superação da violência sempre estiveram presentes a criação de alegria, de beleza e de prazer. Estes são os presentes do povo negro para o mundo.”
- Angela Davis
No Brasil, a agricultura é um dos pilares da economia, mas a sua história é profundamente entrelaçada com desigualdades raciais que se perpetuam até os dias atuais. A realidade dos trabalhadores rurais negros é marcada por uma longa história de exploração e marginalização, que remonta ao período colonial e à escravidão, no entanto, está história é marcada também por um histórico de luta e resistência. Atualmente, 69,6% da força de trabalho rural se identifica como negra, o que demonstra a presença significativa desse grupo no campo. No entanto, a situação é alarmante: 58,3% dos trabalhadores rurais estão na informalidade, sem carteira assinada, o que os torna vulneráveis a condições de trabalho precárias e os priva dos direitos assegurados pela Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) (OXFAM BRASIL, 2024[1] ). Embora sejam maioria no campo, os negros possuem muito menos terra do que os brancos. O Censo Agropecuário de 2017 revelou que, nas grandes propriedades, 79,1% dos proprietários são brancos, enquanto apenas 1,6% se identificam como pretos. Essa realidade não é apenas uma questão econômica, mas sim um reflexo de um histórico de exclusão e racismo fundiário (CATUCCI; SOUZA, 2022[2] ).
A contribuição dos negros e negras na agricultura vai muito além do simples trabalho nas lavouras. Muitos estão na linha de frente da promoção de práticas agroecológicas e na defesa da agricultura familiar e sustentável. Pequenos produtores e comunidades quilombolas, como as mulheres de Barra da Aroeira, em Tocantins, e Mumbuca, no Jalapão, desempenham papeis cruciais na preservação de saberes ancestrais e na implementação de métodos agrícolas sustentáveis. Elas cultivam alimentos agroecológicos, garantem a segurança alimentar em suas comunidades e são conhecidas pela produção de artesanato, como o capim dourado, que é um importante símbolo turístico da região. Essas mulheres, líderes em suas comunidades, enfrentam muitos desafios, como o difícil acesso a crédito rural e assistência técnica, além da necessidade urgente de políticas públicas que reconheçam suas contribuições e ofereçam o apoio necessário (BRASIL, 2019)[3] . Mesmo diante de tantas barreiras, elas continuam a ser as guardiãs da terra e da cultura, promovendo a resiliência e a diversidade em seus sistemas agrícolas.
Neste Dia da Consciência Negra, é fundamental que a gente reconheça e valorize a luta do povo negro na agricultura brasileira. Essa batalha busca dignidade, reconhecimento e igualdade de direitos, sendo um esforço contínuo para melhorar as condições de trabalho e renda no campo. Enfrentar o racismo estrutural e promover um ambiente mais justo e inclusivo são metas essenciais. Ao celebrarmos essa resistência, devemos nos comprometer a apoiar políticas e ações que assegurem um futuro onde todos os trabalhadores, independentemente de sua origem, possam prosperar e contribuir para um Brasil mais equitativo e solidário.
É importante também entender que valorizar as práticas agrícolas tradicionais e promover uma agricultura que respeite o meio ambiente são passos fundamentais não só para garantir a sustentabilidade da produção, mas também para preservar a cultura e a identidade dos povos que habitam as áreas rurais. Reconhecer o papel dos negros e negras na agricultura é, portanto, um avanço essencial para a construção de um futuro mais justo para todos.
REFERÊNCIAS
¹ BRASIL. Mulheres quilombolas se destacam na produção sustentável e na proteção do território. Ministério da Agricultura, 15 out. 2019. Disponível em: https://www.gov.br/agricultura/pt-br/assuntos/noticias/mulheres-quilombolas-se-destacam-na-producao-sustentavel-e-na-protecao-do-territorio² CATUCCI, Anaísa; SOUZA, Vivian. Racismo fundiário: negros são maioria no campo, mas têm menos terras do que brancos. G1, 20 nov. 2022. Disponível em: https://g1.globo.com/economia/agronegocios/noticia/2022/11/20/racismo-fundiario-negros-sao-maioria-no-campo-mas-tem-menos-terras-do-que-brancos.ghtml
³ OXFAM BRASIL. Mulheres e negros são maioria no trabalho informal no campo. Oxfam Brasil, 11 jul. 2024. Disponível em: https://www.oxfam.org.br/noticias/mulheres-e-negros-sao-maioria-no-trabalho-informal-no-campo/
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