Agritech/UFLA no 1º Encontro Brasileiro de Enoturismo: conexões, aprendizados e resiliência no território do vinho
- Andressa Paviani

- 27 de out.
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A equipe do Agritech/UFLA — formada pelo professor Paulo Henrique Leme (coordenador), Andressa Paviani (mestranda/orientanda) e Átila de Oliveira (pós-doutorando) — esteve no Rio Grande do Sul para participar do 1º Encontro Brasileiro de Enoturismo, em Bento Gonçalves, apresentando dois trabalhos sobre enoturismo e vitivinicultura em Minas Gerais.
A viagem também marcou uma etapa importante do projeto “Vinhos de Minas”, desenvolvido pelo Agritech/UFLA, que investiga práticas, arranjos e dinâmicas do mercado e consumo dos vinhos de inverno mineiro. Além da participação no congresso, a equipe aproveitou a oportunidade para realizar visitas técnicas, entrevistas e observações de campo em Porto Alegre e no Vale dos Vinhedos — uma das regiões mais emblemáticas da vitivinicultura brasileira.
Conexões acadêmicas e comunicação do vinho
Em Porto Alegre, a equipe teve um jantar com as professoras Aurora Carneiro Zen e Daniela Caligaro, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), e com o professor Juan Velozo Campos, da Universidad de Medellín (Colômbia). O encontro aproximou agendas de pesquisa entre as instituições e mostrou convergências com o projeto Vinhos de Minas, especialmente em temas como inovação, governança e enoturismo. A conversa abriu espaço para futuras parcerias e publicações conjuntas entre as universidades.

A equipe também visitou o projeto Brasil de Vinhos, iniciativa de jornalismo e curadoria criada por Lucia Porto, voltada à valorização da produção nacional. O diálogo permitiu compreender como a comunicação setorial tem fortalecido a imagem do vinho brasileiro e ampliado seu reconhecimento junto ao público consumidor.
Por fim, a programação contemplou visitas a vinícolas urbanas, como a Ruiz Gastaldo e a Adolfo Lona, referências nesse modelo de negócio em Porto Alegre. Essas vinícolas representam uma forma inovadora de vinificação urbana, com produção em pequena escala, foco em qualidade e integração à vida cultural da cidade — um formato que vem ganhando relevância e despertando interesse de pesquisadores e profissionais de marketing.

O congresso e os diálogos sobre o enoturismo brasileiro

O 1º Encontro Brasileiro de Enoturismo reuniu produtores, gestores públicos, profissionais da área enológica e pesquisadores de todo o país, além de convidados internacionais. As discussões abordaram experiências e modelos de enoturismo em diferentes regiões do Brasil e do mundo, com destaque para Portugal e Ilhas Canárias, que apresentaram práticas de integração entre vinho, território e cultura. A equipe do Agritech/UFLA apresentou Minas Gerais, destacando as especificidades dos vinhos de inverno, a técnica da dupla poda e o papel da pesquisa acadêmica na estruturação desse novo mercado.
Durante o congresso, as rodadas de degustação e apresentações de associações e cooperativas permitiram observar modelos de governança que inspiram mercados emergentes, como o mineiro. Os contatos com produtores e lideranças locais reforçaram a importância das associações comunitárias e do enoturismo como vetor de desenvolvimento regional.
Entre os encontros marcantes estiveram as conversas com Carlos Raimundo Paviani, referência na vitivinicultura brasileira, e com Mara Flora, da Associação Brasileira de Enoturismo (ABEtur). Paviani compartilhou reflexões sobre políticas públicas e o papel das instituições, e seu filho, Pedro Paviani, foi lembrado por ter criado o e-commerce Vinícolas e Vinícolas, o único do país especializado exclusivamente em vinhos brasileiros.
A equipe também conheceu o prefeito de Areal (RJ), Gutinho Bernardes, que vem impulsionando a vitivinicultura da Serra Fluminense, território emergente que tem se destacado por novos projetos e investimentos no setor. No mesmo evento, houve o reencontro com Hideraldo Lima, presidente da Associação Aviva – Vinícola Vale dos Desejos, também localizada na Serra Fluminense. Ambos os encontros foram importantes para aproximar o Agritech/UFLA de uma região que vem se estruturando rapidamente. A partir dessas conversas, já estão sendo planejadas novas parcerias institucionais voltadas à cooperação inter-regional e à produção de materiais científicos e publicações conjuntas.
Vinícolas, experiências e resiliência no território gaúcho

Em Bento Gonçalves, a visita à Embrapa Uva e Vinho foi um dos pontos altos da agenda. A equipe foi recebida pelos pesquisadores Luiz Fernando Protas e Joelsio José Lazzarotto, ambos amplamente citados na literatura técnica e referência em viticultura e enologia. Durante o encontro, foram discutidos temas como mercado, enoturismo e sistemas produtivos, além das principais linhas de pesquisa da unidade, voltadas à inovação, qualidade e sustentabilidade da vitivinicultura nacional. A visita reforçou o alinhamento entre o projeto Vinhos de Minas e as ações da Embrapa, fortalecendo o diálogo entre as instituições e projetando novas possibilidades de cooperação técnica.
Na mesma cidade, a equipe também visitou a Consevitis, e foram recebidos por Ana

Decol, Cristina Carniel e Eduardo Piaia. A reunião destacou a importância da integração entre instituições e produtores e apresentou as ações de fortalecimento da cadeia vitivinícola na Serra Gaúcha, reforçando o papel da governança e da cooperação setorial.
Essas visitas reforçaram o alinhamento entre o projeto Vinhos de Minas e as iniciativas desenvolvidas no Sul, fortalecendo o diálogo entre as instituições e projetando novas possibilidades de cooperação técnica e intercâmbio de conhecimento.
Na sequência, a equipe realizou uma imersão em Garibaldi, visitando a Vinícola Peterlongo, a Cooperativa Vinícola Garibaldi e a Chandon Brasil. A Peterlongo impressiona pela tradição — é a única vinícola do país autorizada a usar o termo “Champagne” em rótulos específicos — e pela narrativa histórica preservada em sua visitação. A Garibaldi se destacou pelo trabalho cooperativo e pelo papel educativo junto aos visitantes, enquanto a Chandon apresentou práticas de viticultura de precisão e sustentabilidade, reforçando seu posicionamento como referência em espumantes premium.

A Adega Refinaria, em Bento Gonçalves, encerrou a semana de visitas. O encontro com Fabiano Valduga, proprietário da marca Otto, foi agendado a partir de um convite feito durante a feira ProWine. A equipe conheceu o conceito da loja, que reúne rótulos de todo o Brasil, com destaque para os vinhos de inverno de Minas Gerais, e valoriza a curadoria e identidade visual dos produtos. Após as inundações de 2024, Valduga lançou a linha Otto, com rótulos que remetem à memória das águas e às marcas deixadas pelo desastre, transformando perda em símbolo de resiliência e compromisso com o território.
Ao longo das próximas publicações no blog do Agritech, a equipe compartilhará histórias, observações e aprendizados dessa jornada pelo Sul do país — um registro das conexões e experiências que aproximam Minas Gerais e o Rio Grande do Sul na construção de um mercado brasileiro de vinhos cada vez mais integrado e plural.




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